Ministério Público pede manutenção integral da condenação por feminicídio e estupros; promotor alerta: “Se solto, voltará a matar”
A Defensoria Pública ingressou com recurso para tentar reduzir a pena de 225 anos imposta a Gilberto Rodrigues dos Anjos, 34 anos, condenado por feminicídio, estupro e estupro de vulnerável contra Cleci Calvi Cardoso, 46 anos, e suas três filhas, em Sorriso (MT).
O julgamento, que ocorreu em 7 de agosto, resultou em uma das maiores condenações já registradas no estado. Mesmo assim, a defesa tenta modificar parte da sentença, pedindo que alguns atos sejam enquadrados como vilipêndio de cadáver, e não como estupro — o que poderia reduzir a pena.
O Ministério Público já adiantou que vai lutar para manter a condenação integral.
A acusação
O promotor Luiz Fernando Rossi Pipino, responsável pelo caso, afirmou que Gilberto representa risco extremo para a sociedade:
“Eu não tenho a menor dúvida de que, se for solto, ele voltará a estuprar e a matar. Ele personifica o mal e coloca em risco a vida de outras mulheres.”
Segundo o promotor, em 16 anos de atuação no Tribunal do Júri, jamais havia presenciado tamanha brutalidade. Ele comparou o crime ao caso do “Maníaco do Parque”, condenado em São Paulo em 1998.
O crime
O massacre ocorreu entre os dias 24 e 25 de novembro de 2023, quando Gilberto invadiu a casa da família Cardoso, no bairro Florais da Mata, em Sorriso.
As vítimas foram:
- Cleci Calvi Cardoso, 46 anos
- Miliane Calvi Cardoso, 19 anos
- Manuela Calvi Cardoso, 13 anos
- Melissa Calvi Cardoso, 10 anos
Três delas foram degoladas e violentadas sexualmente. A filha mais nova foi morta por estrangulamento.
O julgamento
O júri popular durou cerca de 10 horas.
- Gilberto foi condenado por:
- 4 feminicídios qualificados
- 3 estupros / estupros de vulnerável
- A sentença foi dada pelo juiz Rafael Deprá Panichella, da 1ª Vara Criminal de Sorriso.
Lei Antifeminicídio
O caso ganhou repercussão nacional e motivou a criação do Pacote Antifeminicídio, sancionado em outubro de 2024.
A lei elevou a pena mínima de feminicídio de 12 para 20 anos, e a máxima de 30 para 40 anos, além de proibir benefícios como prisão domiciliar.
Contudo, as mudanças não se aplicam ao caso de Gilberto, pois a Constituição proíbe a retroatividade de leis mais severas.
Pedido de indenização
O viúvo Regivaldo Batista Cardoso e a avó das vítimas, Soeli Fava Calvi, 76 anos, moveram duas ações contra o Estado de Mato Grosso, cobrando R$ 40 milhões por omissão.
A acusação aponta que Gilberto já tinha mandado de prisão em aberto por latrocínio desde 2022, mas permanecia solto.