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Sorriso/MT - 06/11/2025 16:18

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Encerramento da Santa Casa de Cuiabá preocupa setor da saúde e acende alerta sobre impacto no atendimento público

Governo confirma desativação da unidade centenária e anuncia transferência de serviços para o Hospital Central, mas especialistas alertam para prejuízos à população e importância histórica do hospital.

A tradicional Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, uma das instituições mais antigas e simbólicas da capital mato-grossense, terá suas portas fechadas nos próximos meses.

O anúncio foi reafirmado pelo governador Mauro Mendes (União Brasil) durante a cerimônia de entrega do Prêmio Eficiência e Inovação 2025, realizada nesta segunda-feira (8), no Palácio Paiaguás.

Segundo o chefe do Executivo estadual, os serviços atualmente oferecidos pela unidade hospitalar como hemodiálise, oncologia, pronto atendimento infantil e internações de alta complexidade serão transferidos para o novo Hospital Central, ainda em fase final de construção, além de outras unidades públicas da rede estadual.

“Alugamos o prédio da Santa Casa, mas construímos um hospital moderno, muito superior, para abrigar todos esses serviços.

O prédio antigo pertence ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e será devolvido. Essa estrutura não nos pertence e custa caro ao Estado”, afirmou o governador.

Hospital centenário: importância e legado

Com mais de 200 anos de história, a Santa Casa de Cuiabá sempre desempenhou um papel vital no atendimento à população carente.

Foi referência não só em especialidades médicas como nefrologia e oncologia, mas também em formação de profissionais da saúde e no acolhimento de pacientes vindos do interior do estado por meio da regulação do SUS.

Seu fechamento definitivo representa mais do que a desativação de um prédio significa a perda de uma referência histórica, humanitária e estratégica na saúde pública de Mato Grosso.

A unidade sempre foi um dos pilares da rede hospitalar da capital, ajudando a desafogar outras unidades de saúde e oferecendo atendimento em áreas com grandes filas de espera.

“Fechar a Santa Casa é tirar um pulmão do SUS em Cuiabá. Por mais que haja a promessa de realocar os atendimentos, sabemos que a transição é lenta, burocrática e impacta diretamente quem mais precisa”, afirmou um representante do setor médico ouvido pela reportagem.

Alta despesa e decisão política

O governo argumenta que o aluguel mensal de cerca de R$ 400 mil inviabiliza a continuidade da Santa Casa como hospital público, uma vez que o prédio antigo e com alto custo de manutenção não pertence ao Estado, e sim ao TRT. O governador considera que manter uma estrutura com tais características não é mais justificável, já

que o governo estadual está investindo em hospitais com infraestrutura mais moderna, tecnológica e eficiente.

Ainda assim, entidades médicas, movimentos sociais e parlamentares se mobilizam contra a decisão, pedindo que a unidade continue ativa.

Muitos temem que a transferência abrupta dos serviços resulte em sobrecarga de outras unidades, ou até mesmo em descontinuidade no atendimento a pacientes em tratamento contínuo.

Novo Hospital Central e incertezas

O novo Hospital Central de Cuiabá, que deve absorver os serviços atualmente ofertados pela Santa Casa, está sendo finalizado e contará com gestão compartilhada com o Hospital Israelita Albert Einstein, reconhecido nacionalmente pela excelência na administração hospitalar.

Apesar da promessa de modernização, a nova unidade ainda não está em funcionamento pleno, o que causa apreensão quanto à real capacidade de absorver toda a demanda atual sem causar prejuízos à população.

Destino do prédio e dívida milionária

O prédio da Santa Casa está sob responsabilidade do Tribunal Regional do Trabalho, que avalia a possibilidade de vendê-lo para abater dívidas trabalhistas que ultrapassam R$ 43 milhões, acumuladas pela antiga gestão filantrópica da instituição.

Com a devolução da estrutura, o governo se isenta de responsabilidade sobre o futuro do imóvel, deixando a definição a cargo da Justiça do Trabalho. No entanto, o debate sobre a utilização do espaço e a preservação do seu legado histórico ainda está longe de uma solução.

A saída da Santa Casa do cenário da saúde pública de Mato Grosso não é apenas uma mudança administrativa, mas uma decisão com consequências profundas para milhares de pacientes que dependem de seus serviços.

Ainda que o governo invista em novas estruturas, a história, a experiência acumulada e a função social da Santa Casa não podem ser substituídas de forma simples ou imediata.

Especialistas e lideranças defendem que, antes de encerrar as atividades da unidade, seja garantida uma transição segura, estruturada e transparente, evitando lacunas no atendimento, especialmente nas especialidades sensíveis como oncologia e hemodiálise.

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