Queda histórica no crédito à produção expõe desafios do setor, enquanto financiamento à aquisição de imóveis cresce 16,4% em 2025.
O setor da construção civil no Brasil enfrenta um dos seus momentos mais delicados nos últimos anos. Entre janeiro e maio de 2025, o volume de unidades habitacionais financiadas para produção caiu drasticamente, totalizando pouco mais de 24 mil imóveis uma retração de 62,9% em comparação com o mesmo período de 2024, quando foram registradas mais de 65 mil unidades financiadas.
O valor total dos financiamentos à produção também desabou: passou de R$ 15,5 bilhões para R$ 7,1 bilhões, queda de 54,1%, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Juros altos e saída de recursos da poupança agravam cenário
De acordo com a economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos, dois fatores principais influenciam essa retração: a taxa básica de juros (Selic), mantida em 15% ao ano o maior patamar desde 2006 e a retirada de R$ 49,6 bilhões da caderneta de poupança no primeiro semestre de 2025, reduzindo drasticamente a capacidade de oferta de crédito pelos bancos.
“O custo do crédito está elevado tanto para o comprador quanto para o construtor. Os bancos têm priorizado o financiamento à aquisição, em detrimento da produção”, afirmou Ieda.
Aquisição de imóveis cresce mesmo com cenário adverso
Na contramão da produção, o financiamento à aquisição de imóveis cresceu 16,4% no período, com 154 mil unidades financiadas, ante 132,3 mil no mesmo intervalo de 2024. O dado reforça a mudança no foco das instituições financeiras, que têm concentrado esforços no crédito ao comprador final, reduzindo o volume de recursos destinados às construtoras e incorporadoras.
Emprego se mantém, mas com ritmo menor
Apesar da queda no crédito à produção, o setor continua sendo um dos maiores empregadores do país. Em maio, o número de trabalhadores com carteira assinada na construção ultrapassou 3 milhões o maior volume desde 2020, segundo o Caged.
No entanto, houve uma desaceleração no ritmo de contratações: entre janeiro e maio de 2025, foram criadas 149,2 mil vagas, 6,7% a menos do que no mesmo período do ano anterior, o salário médio de admissão no setor ficou em R$ 2.436 o mais alto entre todos os segmentos analisados pela CBIC.
Perspectivas moderadas e apelo por medidas urgentes
Mesmo diante das dificuldades, a CBIC mantém a projeção de crescimento de 2,3% no Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil para 2025, sustentada por obras e empreendimentos lançados anteriormente, que ainda mantêm parte da cadeia produtiva ativa.
“A projeção tem um leve otimismo e é sustentada pela inércia de lançamentos anteriores”, explicou Ieda Vasconcelos.
O presidente da CBIC, Renato Correia, reforçou a necessidade de políticas públicas voltadas à retomada dos investimentos no setor:
“A construção civil segue criando empregos, movimentando a economia e contribuindo para o crescimento do país, mesmo diante de um cenário de juros altos e crédito restrito. Mas é urgente criar condições mais favoráveis para a produção”, declarou.