Decisão da Justiça Eleitoral aponta abuso de poder econômico com uso de dinheiro, transporte irregular e distribuição de bens para garantir votos em 2024.
A Justiça Eleitoral de Mato Grosso cassou os mandatos do prefeito de Brasnorte, Edelo Ferrari (União Brasil), da vice-prefeita Roseli Gonçalves e do vereador Gilmar Celso Gonçalves por envolvimento em um esquema de compra de votos que teria influenciado diretamente o resultado das eleições municipais de 2024.
A decisão, assinada pelo juiz Romeu da Cunha Gomes, da 56ª Zona Eleitoral, também determinou a convocação de novas eleições no município.
As investigações revelaram que o grupo organizou uma estratégia para atrair cerca de 100 indígenas da etnia Enawenê-Nawê, oferecendo vantagens como transporte clandestino, valores em dinheiro, combustíveis e até alimentos incluindo frangos congelados com o objetivo de transferir seus títulos eleitorais para Brasnorte e votar na chapa investigada.
A operação começou a ser monitorada em 2023, quando o Exército interceptou ônibus fretados por Rogério Gonçalves, servidor da prefeitura.
Os veículos estavam transportando indígenas de forma irregular, financiados pelos filhos do vereador Gilmar Gonçalves, Alexandre e Júnior Augusto Gonçalves.
Entre os principais elementos utilizados na condenação estão depoimentos de testemunhas e a quebra de sigilo bancário de Rogério Gonçalves, que revelou movimentações superiores a R$ 200 mil, direcionadas tanto aos eleitores indígenas quanto à empresa contratada para o transporte.
Outro ponto destacado na sentença foi a taxa de abstenção nas eleições de 2024 em Brasnorte, que ficou em apenas 10%, enquanto a média da zona eleitoral superou os 27%.
A chapa eleita venceu por apenas 155 votos de diferença dado considerado crucial para confirmar que a prática ilegal teve impacto direto no resultado das urnas.
Embora não tenha sido comprovada a participação direta do prefeito Edelo Ferrari ou da vice-prefeita Roseli nas ações irregulares, o juiz entendeu que ambos foram beneficiados e, por isso, perderam seus mandatos.
Eles não foram, no entanto, declarados inelegíveis.
Por outro lado, Gilmar Gonçalves, Rogério Gonçalves, Alexandre Gonçalves, Júnior Gonçalves e João Gomes da Silva Júnior foram considerados inelegíveis por oito anos.
Gilmar e Rogério também receberam multa individual de R$ 53.205,00 por compra de votos.
Após a divulgação da sentença, Edelo, Roseli e Gilmar publicaram um vídeo nas redes sociais afirmando que receberam a decisão com surpresa e que pretendem recorrer junto ao Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT).
“Seguiremos governando Brasnorte até que haja decisão definitiva”, afirmou o prefeito no vídeo.
Com a decisão, caberá ao TRE-MT organizar novas eleições para prefeito e vice, além de recontar os votos para a Câmara Municipal, uma vez que os votos atribuídos a Gilmar foram anulados.